A tradicional encenação da Paixão de Cristo, realizada na Sexta-feira Santa (18/04), em frente à Catedral de Santo Antônio, em Patos de Minas, repercutiu nas redes sociais e gerou polêmica. A apresentação deste ano trouxe uma nova leitura da Paixão de Cristo, fazendo referência à destruição da natureza, em sintonia com a temática da Campanha da Fraternidade 2025: “Fraternidade e Ecologia Integral”, com o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gênesis 1:31).
Apesar da proposta, diversos comentários criticaram a abordagem adotada. Fiéis afirmaram que a encenação teria inserido conteúdos considerados “fora de contexto”, com mensagens interpretadas como “ideológicas” e “políticas”.
“Envolver política em um dia tão importante foi decepcionante. A encenação fugiu completamente do que esperávamos”, comentou uma internauta. Outro comentário questionou a autorização da apresentação em uma cidade que, segundo o autor, é “sustentada predominantemente pelo agronegócio”, acusando a Igreja de ter se rendido a “ideologias esquerdistas”.
Diante da repercussão, o paroquial da Catedral, padre Marcos Vinícius Magalhães Teixeira, divulgou uma nota de esclarecimento. Na mensagem, ele assumiu a responsabilidade pela apresentação e lamentou que a proposta tenha sido mal interpretada.
“Sou patense, católico, filho e neto de agropecuaristas. O objetivo foi chamar a atenção para a destruição do meio ambiente, algo que também fere o Coração de Cristo”, explicou. O padre reforçou que não houve qualquer citação a partidos políticos ou críticas diretas ao agronegócio. “Meu partido é o Evangelho”, afirmou.
Ao final, padre Marcos Vinícius fez um apelo à reflexão e ao espírito de conversão proposto pela Semana Santa: “Que a Páscoa de Cristo chegue até nós iluminando, transformando e salvando almas, corpos, consciências e a Criação”.
A encenação foi seguida pela tradicional procissão do enterro, que reuniu fiéis no entorno da Catedral.
ÍNTEGRA DA NOTA
Eu, Padre Marcos Vinícius Magalhães Teixeira, paroquial da Paróquia Santo Antônio de Pádua, Catedral de Patos de Minas, assumo a responsabilidade pela apresentação teatral intitulada “Paixão de Cristo – Via Crucis” encenada ontem na porta da Catedral. Também me responsabilizo pelos seus efeitos contrários à minha intenção.
Sou patense, católico, filho e neto de agropecuaristas e procuro ser fiel ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Doutrina da Igreja.
O objetivo da apresentação de ontem, à luz da Campanha da Fraternidade 2025, cujo tema: Fraternidade e Ecologia Integral, e o lema: Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1, 31), foi atentar para a destruição do meio ambiente e suas consequências que ferem também o Coração de Cristo.
Fiquei surpreso com a má interpretação e mau juízo que algumas pessoas da sociedade patense estão fazendo dizendo que fizemos política ou que atacamos o agronegócio. Li, corrigi e aprovei o texto da apresentação e o tenho em mãos para quem quiser ver. Em nenhum momento foi citado algum partido político e nem atacado o bom agronegócio.
Não sou esquerdista, nem petista, nem adepto à Teologia da Libertação e nem contrário ao agronegócio. Meu partido é o Evangelho e voto no que me parecer mais próximo a esse; dependo do agronegócio, como qualquer pessoa normal, e nem sou tão afeito à temas sociais.
O que mais me entristece é que acusam até nosso querido Bispo, que nem tinha ciência do conteúdo da apresentação e foi para assistir como qualquer fiel. E mais, desconsideram o trabalho e o esforço de tantas pessoas envolvidas, muitos também filhos e netos de agropecuaristas.
Por fim, faço um apelo a todos: se não conseguem ver a Paixão de Cristo na destruição da Criação, que consigam Vê-la pelo menos em nós sacerdotes, que somos todos os dias julgados, condenados e crucificados nas redes sociais e pela língua de muitos.
Que toda a preparação para a Páscoa e os apelos de conversão do coração não em em vão! Que a Páscoa de Cristo chegue até nós iluminando, transformando e salvando almas, corpos, consciências e a Criação. Deus vos abençoe!