
Por: Yuri Matos, Bacharel em Direito
Vivemos na era digital, onde praticamente qualquer informação fica registrada para sempre. Isso traz uma questão delicada: até que ponto o ado de alguém deve ser ível ao público? O direito ao esquecimento visa resolver esse dilema, oferecendo uma forma de proteger a privacidade das pessoas ao limitar a divulgação de informações antigas e irrelevantes que possam causar danos pessoais ou profissionais.
O direito ao esquecimento surgiu na Europa, ganhando notoriedade em 2014, quando o Tribunal de Justiça da União Europeia permitiu que um cidadão espanhol solicitasse a remoção de um link sobre um leilão de sua casa nos resultados do Google. Essa decisão abriu caminho para que outras pessoas também pedissem a exclusão de informações que consideram prejudiciais ou ultraadas.
No Brasil, o conceito de direito ao esquecimento ainda está em desenvolvimento e gerou debates importantes. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o caso de Aída Curi, onde a família da jovem assassinada nos anos 50 pediu que a história não fosse mais exibida na mídia. O STF decidiu que o direito ao esquecimento não poderia ser aplicado para impedir a divulgação de fatos verídicos e de interesse público, estabelecendo limites para sua aplicação.
O dilema principal é o equilíbrio entre o direito à privacidade e o direito à informação. Em casos envolvendo figuras públicas ou fatos de grande impacto social, a divulgação é justificada pelo interesse público. No entanto, quando se trata de pessoas comuns que enfrentam a exposição de fatos superados, o direito ao esquecimento oferece uma possibilidade de proteção e privacidade.
Mesmo sem regulamentação definitiva, o direito ao esquecimento já pode impactar a vida das pessoas. Imagine uma situação em que fotos embaraçosas da adolescência ou pequenos erros cometidos no ado prejudiquem alguém no mercado de trabalho. O direito ao esquecimento possibilita que informações como essas não sejam facilmente encontradas, ajudando as pessoas a seguir em frente sem serem constantemente lembradas de momentos que já deixaram para trás.
Para exercer o direito ao esquecimento, plataformas como o Google disponibilizam formas de solicitar a remoção de conteúdos específicos. Entretanto, é necessário provar que essas informações são irrelevantes, desatualizadas e causam prejuízo pessoal, sem interesse público. Esse processo é uma maneira de garantir que a internet não se torne uma barreira para a vida pessoal ou profissional de alguém.
Em um mundo onde tudo pode ser compartilhado e preservado digitalmente, o direito ao esquecimento se mostra cada vez mais relevante. Ele representa uma tentativa de equilibrar a liberdade de expressão com a necessidade de privacidade, permitindo que as pessoas superem seus próprios ados em uma sociedade hiperconectada.