Em outubro de 2023, abordamos nesta coluna “Universo Agro” a delicada situação enfrentada pelos produtores de leite em todo o Brasil. Além de receberem valores reduzidos pelo leite produzido, enfrentavam a concorrência desleal das importações, principalmente da Argentina e do Uruguai.
Desde então, houve desenvolvimentos significativos. No início de outubro, o presidente Lula assinou um decreto que estabeleceu uma diferenciação tributária na aquisição de leite in natura por laticínios, agroindústrias e cooperativas que não importam lácteos. Contudo, o decreto só entrou em vigor 120 dias após a publicação, tempo suficiente para muitos produtores não arem a crise e deixarem a atividade.
Infelizmente, as importações de leite continuaram a aumentar, atingindo um volume recorde de 219,3 milhões de litros em dezembro, representando um aumento de 10,8% em relação a novembro. A Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) relatou que as importações totais de leite em 2023 alcançaram 12,18 bilhões de litros, um aumento de 69% em comparação com o ano anterior, configurando um triste recorde histórico para a cadeia produtiva do leite.

Diversas entidades representativas do setor, como CNA, FAEMG, OCB, OCEMG e ABRALEITE, realizaram eventos em 2023, pressionando o governo federal a tomar medidas concretas para resolver essa situação. Os prejuízos continuam afetando principalmente os pequenos e médios produtores, que possuem menor poder de barganha na venda do leite e na compra de insumos.
Apesar de o Brasil ser o quinto maior produtor mundial de leite, a Argentina, ocupando a 12ª posição, e o Uruguai, a 38ª, apresentam diferenças significativas na produção. A crise afeta não apenas economicamente, mas também socialmente, pois a produção brasileira de leite está presente em cerca de 98% dos municípios do país, desempenhando um papel vital na economia e na sociedade.
A região mineira do Alto Paranaíba, maior bacia leiteira do país, sente diretamente os reflexos dessa crise, afetando agroindústrias e laticínios associados à atividade. Os impactos econômicos se estendem para toda a cadeia produtiva do leite, incluindo fornecedores de insumos, cooperativas, laticínios e transportadores.
Alguns sinais preocupantes já são perceptíveis, como agroindústrias deixando de recolher leite de fazendas mais distantes, devido à concorrência com importações mais baratas. Isso deixa os produtores locais em uma situação delicada, sem saber como garantirão sua renda. A atividade leiteira é estimada como responsável por 4 milhões de empregos diretos e 12 milhões de empregos indiretos, destacando a dimensão social do problema.
Especialistas do mercado alertam para o risco de excesso de oferta de leite no mercado, enquanto os consumidores enfrentam dificuldades em arcar com os valores atuais. Diante desse cenário desafiador, a expectativa é que o governo federal atue com sensibilidade e tome medidas urgentes para apoiar esse setor crucial para o agronegócio e a economia brasileira.